O PCC (Primeiro Comando da
Capital) deu um “salve” para todos os membros e agregados presos buscarem o
diálogo com os diretores de cada unidade prisional no Estado. Quem afirma isso
é um ex-detento, que saiu do CDP-1 de Pinheiros na semana passada, após a rebelião
ocorrida em 24 de julho.
O motivo do diálogo seria
episódios considerados pela facção com atos de maus-tratos e repressões
ocorridos em penitenciárias e CDPs (Centros de Detenção Provisória).
A facção criminosa paulista conta
com “irmãos” (membros filiados, que passam por um batismo e pagam uma
‘caixinha’ mensal ao grupo) e “companheiros” (apoiadores não filiados que tem a
simpatia dos irmãos) em quase todas as unidades prisionais de São Paulo, onde
exerceriam controle velado.
— Quando você chega a uma prisão,
primeiro pergunta “senhor, de quem é esta ala?”. Eles costumam dizer “é do
Geraldo Alckmin”, e aí perguntamos de novo [e então o preso é informado sobre a
facção que domina o local]. Você não entra em ala de facção rival.
Ronaldo (nome fictício a pedido
do entrevistado) afirma que a resposta ao “salve” do diretor do CDP 1 de
Pinheiros foi o estopim da rebelião de 24 de julho, que acabou minutos depois
de iniciada, e narra o que teria ocorrida naquela segunda-feira.
“Todos os CDPs e penitenciárias
pararam com o ‘salve’. Mas os outros diretores conversaram, o do CDP-1 de
Pinheiros, não. Naquele dia todos os detentos saíram de suas celas. Nós pedimos
que ele [o diretor Eduardo Muniz] recebesse cada representante dos raios. Ele
se negou uma vez. Pedimos novamente, se negou novamente. Pedimos uma terceira
vez, ele disse que em 25 minutos viria conversar conosco no raio. Mas quem veio
foi o GIR [Grupo de Intervenção Rápida; espécie de Tropa de Choque da
administração penitenciária], e o GIR não vem conversar, vem com bomba, bala de
borracha. Aí colocamos os colchões nas entradas dos raios para que eles não
invadissem, como proteção nossa. Não tinha caráter de motim, era uma ação
pacífica”, afirma o agora ex-detento, que cumpre pena em liberdade por tráfico
de drogas e posse ilegal de arma de fogo.
Na opinião do Sindicato dos
Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), a
movimentação não teria sido um motim típico.
“Não houve uma rebelião, apesar de este termo ter sido utilizado pela
imprensa ao noticiar o incidente”, afirma nota enviada pelo sindicato à
reportagem do R7, que também explica porque não foi possível uma entrevista com
funcionário do local.
“A maior parte dos funcionários
que trabalham no CDP de Pinheiros estão em período de estágio probatório, e
nenhum daqueles com os quais o Sifuspesp fez contato têm disponibilidade para
conceder entrevista sobre o tema sob o risco de sanções disciplinares que podem
ser impostas pela SAP (Secretaria de Administração Penitenciária)”, diz o
texto.
Também através de uma nota, a
SAP, afirma que “que em nenhum momento a diretoria se nega a dialogar com os
presos”.
Ronaldo afirma que o fogo nos
colchões foi utilizado como recurso de defesa. “Eles [o GIR] chegaram atirando.
Aí nossa única defesa foi atear fogo nos colchões, para eles não entrarem
mesmo. Nós estávamos no raio 1, onde começou, e fugimos para o raio 4 por um
buraco na parede. O fogo era muito grande, íamos morrer se não quebrassemos. O
motim começou com o GIR já dentro da prisão, e eles recuaram com o fogo. Se o
diretor não tivesse enviado o GIR, nada teria acontecido, posso garantir. No
final houve 57 feridos, todos com bala de borracha”.
Continue lendo: Portal R7 - http://noticias.r7.com/sao-paulo/pcc-ordenou-que-lideres-em-prisoes-exigissem-dialogo-com-diretores-10082017
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