Morremos anônimos sem ao menos ter a nossa importância
devidamente reconhecida.
Morremos sós. Assassinados pelo crime organizado ou vítimas
das doenças do nosso trabalho.
Morremos tristes, abandonados a própria sorte sem qualquer
acompanhamento médico ou psicológico.
Morremos aos poucos. A cada dia que passa definhamos física
e psicologicamente.
Morremos, jovens demais.
Quantos sonhos deixaremos de realizar?
Quantas famílias deixaremos a chorar?
Quantas lágrimas precisaremos enxugar? Quantos corpos ainda
teremos que enterrar?
Até não sermos mais vistos como números?
Até sermos vistos como seres humanos? Até sermos tratados como seres humanos?
Quantos de nós ainda perecerão até perceberem que estamos
doentes, cansados, deprimidos. Vítimas de um sistema vil, que nos obriga a
trabalhar excessivamente, demais, devido ao déficit funcional e a super
população carcerária? Quantos de nós ainda perecerão, vítimas das doenças
ocupacionais que muitas vezes são ignoradas.
Ou, que não são tratadas, seja pela falta de auxílio do estado ou pela
falta de capacidade financeira?
Quantos de nós ainda serão ignorados por tudo e por todos e
morrerão sozinhos dentro do seu próprio ambiente de trabalho?
Quantas famílias ainda ficarão no portão à espera de alguém
que nunca mais vai voltar?
Quantos? Quantas? Quando?
Quando deixaremos de aceitar a morte que nos assola de forma
natural, como se fôssemos gado dentro do curral, à sua espera, sem ao menos
lutar por um futuro?
Quando?
Quando?
Marcelo Otávio de Souza
Agente Penitenciário
Fonte: SIFUSPESP
(http://www.sifuspesp.org.br/index.php/noticias/4373-morremos-jovens-cansados-doentes)
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