Análise | Junho de 2013 não foi um 7 a 1

As opiniões sobre junho de 2013 continuam muito diversas, ora imaginando um 7 a 1 para a esquerda ora para direita

Por: Luiz Otávio Ribas
Rio de Janeiro (RJ), 20 de Junho de 2018 às 11:00


Após cinco anos, as opiniões sobre junho de 2013 continuam muito diversas, ora imaginando um 7 a 1 para o time da esquerda, ora um 7 a 1 para o time da direita. Mas quem joga para estes times concorda de que é preciso ainda muito estudo para entender o que aconteceu ali. Sabem que a partida ainda não terminou e este sentido ainda está sendo construído. 

Nas universidades têm muita gente estudando este tema e algumas conclusões já foram divulgadas. Seja para quem foi um acontecimento, ou então um ciclo de protestos, ainda uma rebelião de massa, Junho de 2013 permanece fora do quadro. Há confluência para perceber que surgiram novos atores e inovadoras formas de expressar indignação e descontentamento com os políticos e a situação do país. Em relação ao perfil de quem participou sabe-se que estiveram presentes a classe média e jovens. Sobre as consequências, num primeiro momento, a passagem de ônibus baixou, ou não aumentou. E ninguém que reflita sobre o que aconteceu no último período no Brasil pode ignorar o que se passou ali. 

Em algumas cidades os protestos foram também convocados, especialmente no início, por fóruns que reuniam a esquerda com alguns novos atores. A inovação estava na autonomização em relação a partidos, embora militantes partidários também estivessem presentes, assim como a horizontalidade na organização. O autonomista Movimento Passe Livre (MPL), por exemplo, participou em 2013 de protestos em Teresina (PI), Porto Velho (RO), Aracajú (SE), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), São Paulo (SP), Vitória (ES), Brasília (DF) etc. Em outras cidades, também organizaram-se fóruns para convocar os protestos. Mesmo que no decorrer dos acontecimentos não fossem capazes de mobilizar todos os atores, nem decidir o percurso da marcha, nem a pauta de reivindicações. Em algumas cidades houve maior organização neste sentido, como em Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e São Luis (MA). Em outras houve disputas entre fóruns unitários, como em Salvador (BA) e no Rio de Janeiro (RJ). 

Além das convocações dos protestos por parte destes fóruns, nas redes sociais pipocaram inúmeras outras, dos mais diversos grupos. Muitas destas com pautas progressistas, como a luta contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia e a campanha “Fora Cunha”, na Primavera das Mulheres. Algumas ocupações ocorreram no decorrer dos protestos, como a “Ocupe o Cocó”, em Fortaleza (CE); “Movimento ocupe Estelita”, em Recife (PE); “Ocupa Cabral” e “Ocupa Câmara” no Rio de Janeiro (RJ), ocupação da Câmara de Vereadores, em São Luis (MA) e em Belo Horizonte (MG). 

Alguns coletivos foram destacados pela grande mídia, principalmente aqueles com a pauta anticorrupção contra os governos distributivistas. O “Vem pra rua” teria se apropriado de uma das hashtags mais utilizadas no período para nomear seu movimento anticorrupção. O Movimento Brasil Livre (MBL) apropriou-se da notoriedade do MPL autonomista para nomear seu movimento anticomunista. 

Muitas pessoas mudaram de opinião sobre os protestos, especialmente quem precisava responder sobre os seus propósitos ou sobre as suas consequências. De um lado, o MPL assumiu a responsabilidade num primeiro momento, depois anunciando que tinha deixado as ruas, mesmo que para alguns tenham sido expulsos. O Partido dos Trabalhadores (PT) num primeiro momento convocou sua militância para as ruas, depois recomendou que não fossem. A Presidenta Dilma anunciou reformas (na política de transporte, na saúde, na educação, na responsabilidade fiscal), um plebiscito para uma reforma constituinte do sistema político e depois recuou. Políticos do Executivo num primeiro momento negaram-se a reconhecer a legitimidade dos protestos, num segundo momento reconhecendo apenas no que seria sua dimensão pacífica, condenando o “vandalismo”. A Rede Globo num primeiro momento condenou, depois apoiou fortemente fazendo a mesma clivagem de manifestantes democráticos versus não manifestantes vândalos.

Finalmente, Junho de 2013 não foi um 7 a 1. Precisamos ter serenidade para compreender sua ambivalência, já que é daí que pode insurgir a sua potência.

*Luiz Otávio Ribas é pesquisador do Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) e militante da Consulta Popular.

Edição: Brasil de Fato RJ

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